segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Eu queria ser Che, mas...

Sim, gostaria de ser como Ernesto Guevara de la Serna: “um amante da liberdade”, um “defensor dos fracos e oprimidos”, um anti-americano visceral, e tudo mais a que ele teve o direito de ser. Mas enquanto divagava essa possibilidade, vi que eu ia tropeçar em muitos pré-requisitos para o cargo (á exceção é que eu também sou o mais velho entre cinco filhos, como ele); então conclui que é muito mais fácil para eu obter um importante cargo ao lado do presidente da Coca-Cola no Brasil do que ser como o meu ídolo “Che”.

O primeiro osbstáculo para ter sido Che é que eu não pertenço à classe média, como ele pertencia. Não tinha uma biblioteca em casa, embora tinha em casa uma enciclopédia sobre vários assuntos. Nenhum deles sobre política, mas de história e ciências. Assim como ele, eu também tive uma formação esquerdista em casa, mas nada de Marx e Lênin, ao menos, não diretamente. Minha formação era petista do início dos anos 80, das primeiras eleições que o PT concorreu.

Até agora, bem que tentei alcançar tais pré-requisitos, mas agora os obstáculos anteriores ganham estacas pontiagudas: eu não tinha asma, nem qualquer outra doença, por isso, não poderia usar o truque da água gelada para provocar um ataque de asma e escapar do serviço militar. Eu concordava em servir ao governo? Não, nem ele com o dele, mas tive a sorte de ter sido dispensado pelo “excesso de contingente”. Um subterfúgio nada espetacular se comparado ao dele.

Alcancei meus 24 anos de idade, idade com que Che desbravou a América do Sul com sua “La Poderosa”, tentei compra uma moto tão potente quanto foi sua “La Poderosa” na época, mas tive que escolher entre uma motocicleta potente e uma faculdade. Apostei minha minguada economia na faculdade. Não sei se foi uma boa escolha, pois, além do tempo gasto (muito maior que seu percurso pela América Latina), das dificuldades financeiras decorrente da minha escolha (acho que superiores aos seus gastos com gasolina, alimentação, etc...), ainda não alcancei um centésimo da sua reputação, apesar de dar aulas particulares de matemática a preços módicos para a população de classe sub-média (as vezes de graça) para aliviar meu aperto financeiro.

Finalmente, nas portas e janelas dos meus trinta e dois anos de idade (dia 31/03. Eu quero presente), consegui comprar um carro – um Clio Sedan, ano 2003. Mas porque não escolhi uma moto, que tem um preço bem mais em conta? O problema é que uma moto compatível com a Norton 500 do Che era quase o mesmo preço de um carro, e sabe como é...só cabem três pessoas, e minha família tem o dobro disso.

Mas posso ir com o meu Clio mesmo para as estradas da América Latina. Sim, mas precisaria deixar meu emprego, ficaria sem dinheiro para a gasolina, alimentação, minha família teria dificuldades financeiras ainda maiores, enfim, teria que fazer sacrifícios maiores que o nosso Che fez.

Por fim, mesmo que me arriscasse, eu precisaria encontrar um conflito armado. Talvez me metesse na guerra entre as Farcs e o governo de Álvaro Uribe. Apesar do meu desejo de ser um “amante-da-liberdade-com-o-vento-esparramando-minhas-melenas”, teria que me unir as Farcs, que não amam muito a liberdade alheia, mas que estão de acordo com minha antiga formação petista e che-guevarista.

E o pior de tudo: jamais ia poder ajudar os leprosos, pois não tenho formação de medicina. Para conseguir isso, meus pais precisariam vender nossa confortável casa nos subúrbios para pagar as primeiras mensalidades, e morar numa modesta casa, também nos subúrbios, mas meu ídolo não precisou de tanto, e é claro, nem mesmo ele ousaria tanto.

Enfim, desisti de ser um sentinela da liberdade sul-americano. Só me resta admirar sua juventude na Argentina, sua astúcia em escapar do serviço militar de um governo opressor, seu desejo de largar tudo em nome da liberdade e salvar povos. Uma pena!!!

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu sei como é essa história de inveja - ou melhor, não sei, mas suponho. Se toda a classe média baixa não fosse acomodada, esta teria mais a ganhar que a perder. Mas, por incrível que pareça, reclamar e invejar é mais fácil que reagir.

Agora, sobre ser médico, se você fosse argentino, poderia sê-lo sem dificuldade. É que, naquele país (cuja tradição esquerdista o faz de maior IDH na América Latina), para ser médico, basta concluir o ensino médio e matricular-se numa boa universidade. O mesmo aconteceria se vc fosse cubano. Mas você não é.

E, como vc não é, e prefere invejar os corajosos e acreditar no que ouve falar (coisas vindas de pessoas que moram em Miami e, assim como vc, são invejosas), seja feliz sonhando em tornar-se presidente nacional da Coca Cola. Por que não da Nike? Aproveite e faça uma visita aos países asiáticos onde a Nike explora a mão-de-obra infantil.

Passar bem.

PS: Essa inveja pelo Che é admissível. Ficaria imensamente preocupado se vc tivesse inveja de Pinochet - o amigo de Hayek.

Edenilson!!! disse...

Ora, fico feliz que tenha lido e comentado a minha colocação. Espero que outras pessoas façam o mesmo. Sabe como é, sou novato nesse negócio de "blog".

Agora vamos às considerações. Primeiramente, é uma grande falta de respeito fazer de conta que é minha mãe que escreveu essas coisas. Se não quiser se identificar, tudo bem, mas tire a minha mãe fora dessa!!!

Bem, vou esclarecer a minha inveja. Se Che Guevara foi um ótimo aluno, ótimo. Mas uma coisa você e qualquer outra pessoa que pensa da mesma forma há de concordar comigo: ele era um vagabundo. Explico: quando ele saiu da Argentina e vagou pelas estradas latino-americanas, ele não tinha em mente libertar povo algum. Será que ele saiu da Argentina pensando "vou libertar os povos andinos das garras maléficas dos yankees???". Claro que não. Se ele encontrou um conflito armado e resolveu ficar do lado dos oprimidos, ótimo, mas nada disso muda o fato que ele a princípio não tinha interesse algum em fazer caridades!!!

Experimente pegar sua motocicleta, se não tiver, dê um jeito de comprar uma, assim você se aproxima mais do seu ídolo, e diga aos seus amigos e familiares que vai largar os estudos, o emprego e rodar pelas estradas do continente. Vou te taxar de vadio(a) e com toda a razão!!!

Sobre Pinochet, Hitler, Bush e outros direitistas, são todos abomináveis. A diferença entre eles e Fidel Castro (porque será que milhares de cubanos se arriscam a virar comida de tubarão no Golfo do México para sair do paraíso caribenho??? Seria por causa do Embargo Comercial??? Então porque Fidel não entrega o poder e libera Cuba desse embargo???) é que esses direitistas não são idolatrados como heróis. Talvéz quando
Fidel deixar Cuba, toda a verdade a respeito do seu governo vem a tona!!!


Você fala que a tradição "esquerdista" da Argentina faz com que ela tenha o melhor IDH da América Latina. A Argentina é apenas uma sombra do que foi. Seu período áureo foi na década de 30 quando ela se tornou a maior exportadora de carne de gado bovino do mundo. Depois disso, com direita ou com esquerda, esse país só despencou!!!

E você me deseja que eu seja feliz sonhando em ser presidente da Coca-Cola. Só isso mostra que você leu mas não interpretou direito uma simples afirmação (tudo bem, já tive a sua idade, já fui esquerdista e também era um mau leitor). Disse que seria mais fácil pra mim (e pra imensa maioria dos latino-americanos)trabalhar ao lado do presidente da Coca-cola do que abandonar nossos empregos e vagar pelas estradas do continente!!!

Se eu vou na onda dos refugiados de Miami (não conheço nenhum, mas vá lá), você acredita na propaganda esquerdista do grande herói latino-americano. A esquerda vive e sobrevive de mitos. E agora, quem fala a verdade? Qual de nós dois está sendo enganado???

Mas numa coisa eu me assemelho a Che Guevara, segundo seu ponto-de-vista: sou corajoso, tanto que sabia que ia provocar a cólera das viuvinhas do Che. E no mais, meu nome é Edenilson Fogolari Fagundes, moro em Passo Fundo - RS. Agora quero ver a sua coragem de sair do anonimato, pior, usando a minha mãe para se esconder, e mostre a sua cara. Se se esconde é porque é conhecido meu. Será que já não nos vimos no Orkut???

Mas gostei da discussão. Os pontos-de-vista contraditórios ou não são sempre bem-vindos, desde que acompanhados com o respeito que qualquer debate exige!!!