sexta-feira, 29 de novembro de 2019

...E a Carne Subiu

Essa é a primeira postagem que faço sobre Bolsonaro e seu governo, embora quis falar sobre isso tempos atrás. Acho que era medo d'eu ser boicotado. Mas não me calarei, mesmo a carne sendo fraca. E por falar na dita, o assunto do momento é a alta do preço da carne, ocasionado pela exportação para a China. Como estão fazendo uma salada de frutas com o assunto, tentarei aqui separar o joio do trigo.



Primeiro, houve um surto de grupe suína africana na China. Não entendo muito disso, mas sei que é algo que nada tem a ver com política, seja da China, seja do Brasil. Algo meio que aleatório, que poderia ter acontecido no governo do PT ou do Temer. Por causa disso, a produção de carne na China caiu pela metade.



Segundo, para suprir isso, a China está comprando carne do mundo todo, sobretudo do Brasil, que é o maior produtor.



Terceiro, não há um monopólio estatal da carne - algo como Carnebrás -, tampouco Bolsonaro obrigou ou "sugeriu" os frigoríficos a exportarem para a China. Essa foi uma decisão, até natural, do setor. Portanto, acusar Bolsonaro por isso é algo meio inglório.



Quarto ponto, que tem mais a ver com ciências econômicas, tal situação sugere que a exportação por si só não é o motor do progresso. A demanda aumentou, mas a oferta não, o que ocasionou no aumento do preço.



Quando o Egito ameaçou boicotar a carne brasileira, houve indignações contra o Bolsonaro. Agora que as exportações aumentaram e o preço subiu, culpam o Bolso pela mordida no nosso bolso. Meio complicado.




Dito tudo isso, descobre-se que Bolsonaro não tirou a carne do nosso prato para vender aos chineses por maldade, mas tudo foi fruto de uma ocasionalidade e leis do mercado, que poderia acontecer em qualquer governo.

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Homicídios de negros

Há décadas estava preparando esse texto, mas deixei de lado porque o assunto passou. Mas que nada: concentração de renda, aquecimento global, nazismo de esquerda ou direita e assassinatos de negros são assuntos eternos. Podem ter um intervalinho, mas sempre voltam. Coincidentemente, posto esse texto a poucos dias do dia da Consciência Negra.




Nossos intelequetoais não sabem analisar os próprios dados que apresentam, ou então tiram conclusões falsas para não causar “piti” no seu público. O caso mais conhecido é sobre os homicídios de negros no Brasil. Segundo dados tirados do Mapa da Violência, 70% das pessoas assassinadas são negras contra o restante de brancos, num país onde 53% da população é negra (e pardos), logo, 17% de todos os homicídios no país seria por racismo. Um número bastante elevado, considerando que existem várias causas de homicídio no país. Não vou contestar os números em si, mas a própria análise desses dados.



Vamos começar por um acerto: compararam a proporção de negros assassinados com a proporção de negros no país. Uma atitude óbvia, mas que até pouco tempo, isso não era feito. Agora, vamos ao resto:



1) A proporção de pessoas assassinadas muitas vezes não corresponde exatamente a proporção populacional. Em um mundo onde tudo funcionasse com precisão, o percentual de negros assassinados seria de 53%, embora, obviamente, é preferível que não haja assassinatos. Mas não é o caso. Sempre existirá uma diferença entre a proporção populacional e demais variáveis, algo como as famosas margens de erros das pesquisas eleitorais. Explico isso BEM AQUI



Sempre haverá uma diferença e devemos usar um percentual, o menor possível, digamos, de 5% para mais ou para menos. Assim, podemos “aceitar” um percentual de assassinatos de negros entre 48% a 58%. Mas o percentual real é de 70%, um percentual elevado, mesmo com as “margens de erro”.



2) A conclusão de que 70% das pessoas assassinadas são negras ocorre por racismo parte da premissa de que todos os assassinos são brancos. Não creio que 70% dos assassinos são negros, mas é quase impossível que sejam todos de uma única cor, sexo ou orientação sexual. A proporção de assassinos negros simplesmente é ignorada, até porque, mais de 90% dos assassinatos em geral não são esclarecidos, portanto, o assassino é desconhecido.



Essas são as falhas da análise de dados, agora, falarei da falha metodológica que originam essa conclusão. Se eu fosse fazer um trabalho sobre os assassinatos motivados por racismo, faria mais ou menos assim: descobriria, se possível, o número de negros assassinados por brancos. Alguns poderão fazer o mesmo e parar por aí, afirmando que são assassinatos motivados por racismo. Ainda não. Desses, temos que separar assassinatos por “acerto de contas”, ou guerra de quadrilhas, troca de tiros, latrocínios ou mesmo feminicídio e homofobia, pois não são atos racistas. O que sobrar, aí sim, podemos afirmar que é racismo.



O que expus aí não é uma justificativa ao racismo, até porque brancos não fazem plena ideia do que negros passam numa sociedade racista como a nossa. O que veem nas TVs ou revistas não é tudo. Mas devemos nos atentar aos verdadeiros problemas, não aos falsos, que desviam nossa atenção dos verdadeiros.

sexta-feira, 31 de maio de 2019

Olha eu respondendo o Olavão!!!

O sempre polêmico Olavo de Carvalho nunca esteve tão em alta. Desde que o atual presidente assumiu, ele tem se tornado uma espécie de Rasputin tropical, inclusive tendo ministros indicados sendo aceitos pelo governo. Se antes, os satélites estavam captando sinais de "vida" de Olavo, agora lupas são direcionadas nas suas redes sociais, a espera de alguma postagem polêmica.



Nessa semana, ele teria postado no Twitter uma suposta lacuna científica: de que ninguém contraprovou a argumentação dos terraplanistas sobre a retidão da superfície marítima e isso lhe rendeu a pecha de terraplanista. Oh, como não falei sobre essa "teoria" antes? Vou tentar corrigir um pouco desse lapso aqui. Mas bem, voltando ao Olavo terraplanista, essa dúvida deve mesmo encucar muita gente, inclusive aqueles convictos de que a Terra é ESFÉRICA, mas jamais ousariam expôr essa dúvida em público, como fez o Olavão. Que a Terra é redonda até os terraplanistas sabem, mas para eles, é redonda mas plana. 



Tentarei explicar aqui sobre esse aparente argumento terraplanista, de que essa retidão da superfície seria um indício de que a Terra é plana.



Muito bem, vamos do começo, antes da invenção da roda. Vejam essa interessante e complexa figura abaixo:





Essa figura chama-se quadrado. Vejam que ela tem quatro lados retos. Mas o que acontece se apararmos as pontas? Teremos uma figura semelhante a de baixo:





Se apararmos as pontas dessa figura - um octógono - teremos outra figura com mais e menores lados retos. Se apararmos novamente as pontas dessa nova figura, teremos figuras cada vez mais próximas de um círculo, até que finalmente teremos um círculo.






E então, o círculo não tem nenhuma reta? Sim, tem, mas são infinitesimais. Para provar isso, vejamos abaixo:






Essa parte da circunferência que toca a linha reta no Ponto A é a parte reta do círculo. Elementar, se tocou a reta, então também é uma reta. 



Paremos com essa viagem toda e voltemos ao Planeta Terra. A Terra também é uma circunferência, uma circunferência de aproximadamente 40 mil quilômetros, que também possui inúmeras e infinitesimais partes retas. Uma dessas partes retas da circunferência terrestre é essa superfície reta abaixo dos nossos pés e ao nosso redor, que devem ter uns quinze quilômetros de diâmetro e que é delimitado pela linha do horizonte. No caso da superfície marítima, o horizonte parece reto porque a superfície é homogênea, lisa, sem relevos. Infelizmente, não estou a beira do mar para constatar isso de perto, mas se alguém morar junto ao mar ou em alguma planície perfeita e ver se isso procede, agradecerei na minha próxima postagem.



Ao que parece, a dúvida do Olavo se refere apenas a superfície marítima porque na superfície continental isso não é observável devido a sua superfície rugosa, mas fica claro que o que vale para uma superfície rochosa, vale para uma superfície oceânica, e trechos retos não provam que a Terra é plana ou algo do tipo. Questão de geometria.


quarta-feira, 29 de maio de 2019

A meritocracia de Bettina

Estou eu meio que afastado da internet, desde que a tela do meu laptop trincou pela enésima vez em três meses, por isso, só acompanho algumas notícias no Yahoo, um dos únicos sites que consigo acessar no trabalho, ou quando minha mulher me põe a par das discussões nas redes sociais. Recentemente, o assunto da semana foi uma das propagandas da Empiricus sobre como aumentar sua renda, ficar rico, coisas e tals. Uma jovem teria multiplicado em mil vezes o seu pequeno capital em apenas três anos. Acho que é isso. Depois das várias suspeitas sobre tal façanha, houve pessoas, ou uma, que aproveitou a ocasião para falar sobre meritocracia, de novo e de novo. As bobagens de sempre, para manter a tradição, e em nome da tradição, contestarei mais essa bobagem.


Sempre que falam sobre essa tal meritocracia, há a confusão entre inexistência e ausência. No vídeo não foi diferente, pra nada variar. O primeiro grande problema foi associar a meritocracia à ascensão fictícia da jovem, tentando desmentir algo que ela não falou. Caso essa façanha do milhão fosse verdadeira, seria mais uma questão de sorte que de mérito, já que envolvia investimento em ações. A própria moça, a Bettina, sequer fala em mérito, em esforço, em determinação, coisa e tal, e  estava disposta a compartilhar sua experiência com as demais pessoas (desde, é claro, que pagassem uma taxinha irrisória). Associar isso a meritocracia requer um esforço mental tão grande que certamente daria grandes resultados se fosse aplicado em algo produtivo, tornando o sujeito um “merecedor”, ou lhe faltaria oportunidades para tanto?


O sujeito do vídeo fala que a meritocracia favoreceria uma elite, perpetuando as desigualdades sociais. Desculpe-me, mas isso já acontece, mesmo com a “ausência” de meritocracia. Desculpe-me novamente, mas é a ausência de meritocracia que perpetua as desigualdades sociais, pois pessoas talentosas e competentes, mesmo que sejam desfavorecidas pela vida – e elas existem - são deixadas de lado por causa da cor, raça, sexo, preferência sexual, pelo candidato que escolheu na última eleição, ou para dar espaço a alguém incompetente mas bem Quem Indicado. Tais situações são opostas à meritocracia, mas que cinicamente são chamadas de meritocracia.


Sobre a tão cantada em prosa e verso Deve Haver Igualdade de Oportunidades, que discuti em outra ocasião, certa vez vi um filme brasileiro que pretendia passar uma mensagem, mas para quem prestou atenção, apenas corroborou com o que escrevi. O filme Que Horas Que Ela Volta procurou mostrar a desigualdade e o preconceito da elite contra os mais pobres. Mas o que me chamou a atenção no filme, até porque deve ter sido algo não intencional, é que a filha da protagonista, pobre e esforçada, foi aprovada em um vestibular de medicina, enquanto o filho da patroa, mesmo com todas as oportunidades da vida em mãos, foi reprovado. Pela lógica “anti-meritocrática”, o garoto seria aprovado meio que automaticamente, pois tinha todos os recursos para tal, enquanto a moça tenderia a seguir o mesmo destino da mãe, por mais que se esforçasse. “Exceções”, diria alguém que não sabe a extensão dessas “exceções”, ainda que fossem, de fato, exceções, são melhores que nada, certo? E a Igualdade de Oportunidades pode vir com a meritocracia…



Outra coisa que sequer é discutida é o caráter social de uma profissão. Mesmo que a meritocracia favorecesse tão somente Quem Teve Oportunidades Na Vida, no fim das contas, o que nos interessa é a qualidade de seus serviços. Precisamos de bons médicos, bons advogados, bons dentistas e bons qualquer outra coisa, até porque até nossa sobrevivência depende disso, independentemente se tais profissionais ganharam tudo de mãos beijadas ou tiveram que ralar mais que o necessário. Sem um mínimo de meritocracia, Os Que Tiveram Oportunidade Na Vida continuarão ocupando bons cargos, mas não pela sua competência, o que seria desastroso para qualquer sociedade, e é o que ocorre no Brasil hoje, esse exemplo de país onde a meritocracia não tem vez.



A jovem Bettina e a Empirucus podem ser acusados de tudo, menos de espalhar os nobres valores da meritocracia. Brasileiro não acredita em meritocracia; brasileiro acredita na Mega-Sena e em concursos públicos, de preferência federal.