quinta-feira, 13 de agosto de 2015

A indignação seletiva é coletiva. Tudo depende de quem mata e quem morre...!!!

Descanso o queixo sobre meu punho cerrado, observo, analiso, prescruto as reações das pessoas diante das mortes divulgadas na mídia, começando pelo tio do último imperador norte-coreano, passando pelo leão, pelo cãozinho e por outras dezenas de vítimas de todas as espécies ao redor do mundo, e terminando em algum morro carioca, finalmente chego a uma conclusão não muito chocante: a indignação – seletiva, p’rá variar – depende não apenas de quem morre, mas também, e talvez principalmente, de quem mata, não importando muito suas motivações, até porque, em caso de dúvidas e de quem mata, pode-se criar uma!!!


Vamos ao primeiro exemplo, já comentado bem aqui: Israel bombardeia Palestina. Quem foi bombardeado? A Palestina, mas podia ser uma piscina servindo de criadouro de mosquitos da dengue que não faria diferença nesse caso. O diferencial está em quem atacou: Israel. Mas qual o problema com Israel: 1) Trata-se de uma espécie de enclave americano. 2) É um país idealizado por banqueiros bilionários. Agora, substituam Israel por Jordânia e tentem imaginar a (falta de) indignação da elite humanitária. Soubeste dos ataques russos na Chechênia(?) ? Como reagiste? Pois é...!!!


Um exemplo mais próximo e individual: um menor é morto. Quem matou? Um policial. Surge a justa comoção internética. Ops, foi engano: um outro menor o matou; virou uma unidade perdida entre milhares de corpos espalhados pelo país. Volta a ser um pixel. Um homossexual é morto por um sujeito branco? Pronto, surge a justa indignação. Descobre-se, mais tarde, que foi morto por latrocínio. Pronto, os humanitários se indignarão, mas pela promoção de sua causa que criou asas. Um negro é morto por um branco? Racismo, é claro. Foi morto por latrocínio? Ah...hm...hã...duas vítimas do sistema!!!


O esquema funciona mais ou menos assim:





As “elites” representam basicamente nesse modelo os brancos ricos, os conservadores ou aquilo que entendem por conservadores, cristãos praticantes, americanos brancos de classe média para cima e associados dos EUA, políticos "de direita" e a polícia. Já as não-elites são todos os demais, incluindo os animais. Note que de todas as combinações possíveis, somente quando alguém da elite mata alguém da não-elite haverá indignação!!!


Esse esquema moral não é novo, na verdade, é uma reformulação do se fosse pobre, preto e prostituta já estaria preso, resquício de uma sociedade escravocrata oficialmente finda há relativamente pouco tempo. Nesse caso, temos algo assim:




Note novamente que em qualquer situação, só há indignação em uma das quatro situações.


Talvez para manter nossa sanidade em um mundo com cada vez mais mortes divulgadas (o que é diferente de um mundo mais violento), nossa mente acaba selecionando os tipos de mortes que devemos nos indignar. O problema são os critérios morais que usamos para tanto, aquilo que chamo de elites e não elites!!!


A minha reação diante de assassinatos é mais ou menos assim:




Escolhi a palavra bandidos para definir qualquer pessoa cujos atos causem algum tipo de sofrimento a outra pessoa, independentemente de raça, cor, sexo ou classe social. Roubar barras de chocolate no supermercado não merece mais que uma repreensão, mas roubar o salário de uma pensionista já chamo de “bandidagem”. No caso de não-bandido que mata outro não-bandido é algo raro, mas depende da situação!!!


O problema, portanto, não é a indignação seletiva, mas o que motiva a indignação de cada um. Estamos de olho!!!