sexta-feira, 22 de maio de 2009

Brasileirices!!!

O Brasil – aquele Brasil de que tanto reclamamos e nos envergonhamos - é o resultado de uma coleção de erros, equívocos, má vontade, indiferença e oportunismo de vários integrantes de todos os setores da sociedade, tanto da classe política, quanto empresarial, quanto intelectual, quanto religiosa, quanto popular. Alguns péssimos costumes e vícios podem ser notados através de um histórico de fatos. Não, não vou citar nenhum para defender minhas teorias, pois prefiro que você mesmo procure se lembrar de algum ao ler cada uma das colocações, ou leia e espere por um fato que se encaixe com as colocações abaixo!!!


Só pra começar, vou citar duas brasileirices, que talvez não sejam privilégios apenas nosso, o termo escolhido parece apropriado, pois são vícios muito presentes na nossa sociedade: o imediatismo e o desperdício!!!


O imediatismo, essa nossa predisposição a ter ou ver resultados imediatos, é uma das brasileirices pouco percebida ou comentada; mas o nosso maior problema talvez seja uma outra forma de imediatismo: a crença de que tudo é feito em curto prazo, mesmo aquelas coisas que, na verdade, só são concluidas ou geram resultados no longo prazo. Para nós, o futuro não existe, ou é um trecho de uma via diante de nós que logo acaba!!!


Como eleitor, o cidadão espera obras ou soluções imediatas de seus governantes. Sem tirar a razão desse cidadão, certas coisas realmente são urgentíssimas como a questão dos emprego, saúde e segurança públicas, e talvez sirvam de justificativa para a nossa predisposição ao imediatismo. O governante, como político, sabe que seus eleitores não apenas esperam por soluções imediatas, mas que os mesmos acreditam que tudo pode ser feito no curto prazo. Lamentável equívoco de nossa parte. Uma política social que erradicaria boa parte da pobreza poderá gerar resultados em dez ou vinte anos; mas, passado esse tempo, esses bons resultados serão creditados ao governante de então. Se o governo de uma unidade da federação investiu maciçamente em educação e inclusão social em 1990, e os resultados surgirem na sua plenitude em 2010, é provável que a população creditará tais resultados ao governador de então. Simples, um faz e outro leva os créditos!!!


E porque isso??? Porque acreditamos que tudo pode ser feito em dois ou três anos, embora ninguém saberia explicar o segredo dessa mágica. Por causa disso, continuando nesse exemplo fictício, o sortudo governador, que talvez nada tenha feito de útil no seu mandato, poderá ser reeleito ou fazer um sucessor!!!


Como se não bastasse tudo isso e muito mais, o imediatismo talvez seja a principal nascente de outra, e grave, brasileirice: o desperdício!!!



“Em tudo que se planta, dá”. Essa famosa frase de Pero Vaz de Caminha, como disse um professor que tive, foi um convite ao desperdício. A nossa aparente abundância faz parecer desnecessária uma administração dos recursos. Essa brasileirice tem um peso muito grande na contribuição do nosso atraso, como não é difícil deduzir!!!


A nossa cultura do desperdício não se limita ao uso dos recursos materiais, mas também ao uso de bens intangíveis, como o tempo. O desperdício do tempo soa paradoxal ao imediatismo, pois nesse caso, parece que o futuro existe e se faz bom uso dele (“deixe pra depois”). O tempo tem uma peculiaridade: embora seja infinito, ele é corrente e não volta atrás; ao contrário dos recursos naturais, que são finitos e podemos recolher o que deixamos para trás. Só por isso não deveríamos desperdiçá-lo, mas como muitos não se lembram do “não voltar atrás”, mas apenas do “que é infinito”, então o desperdício do tempo é inevitável nessa nossa cultura. Mas ao contrário do desperdício material, que quanto mais se usa maior o risco de desperdício, com o tempo é justamente o contrário!!!


Desperdiçamos, também, oportunidades. Se a precipitação pluviométrica de uma região é irregular (chove demais numa época e quase nada na outra), porque não armazenamos as águas dos períodos de cheia para usarmos em períodos de seca??? Talvez acabaríamos com as enchentes, e certamente acabaríamos com perdas na lavoura, na pecuária e no abastecimento de água. Não é uma saída tão simples, mas talvez seja possível. Ou custaria tentar??? Resumindo: desperdiçam uma água que só traz calamidades, e quando realmente é necessária, não se tem. Concluindo: ignoramos as oportunidades, e nesse caso, tal como o tempo, ignorar é desperdiçar!!!


Notem a relação entre imediatismo e desperdício. “Vamos usar e abusar do que temos agora, pois temos em abundância, e o futuro não existe (a idéia-motriz do nosso imediatismo)”, esse é o comando mental que impulsiona nossa sociedade. Um impulso que sempre nos leva para trás!!!