Já que todo mundo está falando do programa Mais Médicos, vou
falar também. E só por isso vou falar. Demorei um pouco e acho que deveria
demorar um pouco mais, pois a cada semana pode acontecer algo
inesperado, como de fato aconteceu. Falarei sobre isso mais adiante!!!
Pularei as apresentações, pois, a essa altura, até o casal
octogenário de algum grotão, que só ouviu boatos sobre a existência de uma
caixa mágica chamada televisão, já sabe do que se trata tal programa. Como
esperado, a opinião pública se dividiu entre os prós e contras. Os “prós”
alegam que as regiões mais distantes e miseráveis necessitam de médicos, e que
por sua vez, os médicos dos grandes centros não querem ir para lá. Já os
“contra”, focalizam os médicos cubanos – que devem ser maioria – afirmando-os
que são agentes de Fidel que difundirão o comunismo, ou que trabalham em
condições análogas à escravidão. E você? É contra ou a favor???
O problema das regiões distantes e miseráveis não se limita
a falta de médicos. Em alguns casos, sim, mas em boa parte dessas regiões,
faltam seringas, remédios, refrigeração para vacina, e outros produtos e
equipamentos necessários para o tratamento de pacientes. Quem é a favor da vinda
dos médicos não considera esses detalhes. Isso, porém, não justifica a aversão
à vinda deles (falarei disso também mais adiante). O correto seria exigir a
mínima estrutura necessária ao tratamento de pacientes nessas regiões –
incluindo aí o saneamento básico, responsabilidade dos governos, e não de
médicos forasteiros. Resolvido isso, e mesmo assim não haver médicos para
atender nessas regiões, aí sim, apela-se para o plano B: trazer médicos de
fora!!!
Isso aconteceu no Maranhão. Motivo? Falta de vagas na
maternidade, não de médicos:
Outro argumento utilizado para justificar a vinda de médicos cubanos é que eles atendem em outros países. Em Portugal, por exemplo, eles "deixaram saudades" (veja aqui). A parte estranha disso é que médicos portugueses também estão vindo pra cá. Ora, será que estava faltando médicos e agora está sobrando? Ou eles preferem vir para cá e deixarem seus patrícios desassistidos? Ou é algum artifício digno do anedótico raciocínio lusitano? E novamente, ignora-se a questão da infra-estrutura desses lugares remotos. Será que faltam leitos ou remédios por lá???
Outra questão que ninguém ousou tocar é: por que não há
médicos nativos suficientes nessas regiões? Existem 16
universidades publicas na região Norte, 30 no Nordeste, fora as universidades
particulares, mas aparentemente muitos estudantes não se interessam pela medicina, apesar
do bom salário oferecido nessas regiões. Por que não há médicos "nativos" suficientes
nessas regiões???
Médicos cubanos
Talvez o principal motivo dessa celeuma seja mesmo a
quantidade de médicos vindos para cá, e a maioria deles sendo cubanos. Médicos cubanos já vieram para cá, mas não nessa quantidade. A propósito, tudo o
que vem de Fidel merece nossa insolúvel suspeita. Seu histórico de difundir o socialismo pelas armas, pelo ensino ou por outros meios já dura mais de 50 anos!!!
Mas esses médicos cubanos são agentes difusores do comunismo? Não sei, mas é engraçado que aqueles que achincalham essa possibilidade são os mesmos que acusam Yoani Sanchez de ser agente da CIA. O que se sabe até agora é que o líder comunista embolsará um “mais-valia” de 70% desse gordo salário para os padrões cubanos “sem luxo, mas sem pobreza”. Ah, se fosse um capitalista que fizesse isso...! Sabemos também que esses médicos são “funcionários” do governo, seus serviços são produtos de exportação desse mesmo governo, e não terão um décimo da autonomia que seus colegas de outros países terão!!!
Mas esses médicos cubanos são agentes difusores do comunismo? Não sei, mas é engraçado que aqueles que achincalham essa possibilidade são os mesmos que acusam Yoani Sanchez de ser agente da CIA. O que se sabe até agora é que o líder comunista embolsará um “mais-valia” de 70% desse gordo salário para os padrões cubanos “sem luxo, mas sem pobreza”. Ah, se fosse um capitalista que fizesse isso...! Sabemos também que esses médicos são “funcionários” do governo, seus serviços são produtos de exportação desse mesmo governo, e não terão um décimo da autonomia que seus colegas de outros países terão!!!
Sobre isso, o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha,
já usou a previsível alegação de que os médicos tiveram sua formação gratuita,
e que agora terão que repor os custos de seus estudos. Pagar R$ 7.000 por mês, não importando quantos anos trabalhem nessas condições? Existe algum curso de medicina no Brasil que custe isso, mesmo com todo o "mais-valia" incluído? Será que estarão custeando, também, os custos dos estudantes estrangeiros em Cuba? Os médicos de Portugal e de outros
países também serão achacados dessa forma ou todos eles foram formados em
universidades particulares, portanto, não havendo necessidade de repor o
erário???
O inesperado
Muito se falou sobre a necessidade ou não, sobre as
possíveis conseqüências ou não, das vindas de tantos médicos cubanos, mas talvez
ninguém tenha previsto algo com grande probabilidade de acontecer, e que de
fato aconteceu: prefeituras pobres (e talvez, as mais ricas também) estão
substituindo médicos contratados do país por médicos cubanos. O artifício é
lógico: quem paga os médicos estrangeiros é o governo federal; quem paga os
médicos nacionais – nativos ou não – são as prefeituras. Ora, pagar R$ 10.000
ou mais para cada médico é muito oneroso para essas prefeituras, e os médicos
estrangeiros só custarão a elas o aluguel e outros gastos menores; portanto,
nada mais lógico para essas prefeituras, sob o desesperado ponto de vista
financeiro delas, que fazer essa substituição. E o povo, como fica? Do mesmo
jeito d’antes: não fica!!!
Caiu-se na armadilha das soluções paliativas: arrumar de um
lado, mas estragar do outro. Alguns anos atrás, a secretaria de obras da minha
cidade procurou resolver o problema do engarrafamento que ocorria num certo
trecho do centro (medida paliativa). A solução foi mudar o sentido do tráfego nesse trecho. Essa
medida, segundo o secretário, reduziria o fluxo em 700 carros por dia. Um
grande feito para o nosso trânsito. O único problema é que esses carros não
iriam simplesmente sumir, desaparecer, eles foram para outros trechos já bem
trafegados. Somando os carros que já transitavam por lá com esses novos, o
resultado foi o óbvio: melhorou de um lado, mas piorou do outro. O caso dos
médicos substituídos pode ser pior: demite-se médicos que estão lá, sem que haja o desejado acréscimo de médicos!!!
Médicos brasileiros
É sabido, até pelo casalzinho octogenário lá de cima, que
existem bons e maus profissionais em qualquer área. Vou me referir daqui em
diante aos maus profissionais, aos incompetentes, aos achacadores do SUS, e ao
corporativismo. Compreende-se que eles não queiram ir a regiões isoladas do
país ou do estado onde residem. Sei também que é de um simplismo desonesto
quando acusam tais médicos de querer tão somente ganhar dinheiro, como se
querer fosse poder (falei sobre isso no outro blog).
Desonesto, porque muitos daqueles que acusam fariam a mesma coisa no lugar deles!!!
O que não se
compreende é essa aversão xenofóbica aos médicos que estão se prontificando (no
caso dos cubanos, os Castro estão prontificando-os) a fazer o que eles não
querem. No desembarque dos médicos cubanos em Fortaleza, houve uma sublime
manifestação de preconceito por parte dos médicos brasileiros, e de uma
jornalista, que comparou as médicas cubanas a empregadas domésticas. No
entender dela, isso desqualifica alguém. Outros querem recusar a ajudar
pacientes que não tiveram tratamento adequado dos médicos cubanos. Uma omissão
criminosa, sem dúvida, mas se os médicos cubanos forem tão bons como dizem, não
há porque levar a sério essa birra de alguém carente de atenção!!!
Por enquanto é isso. Fiquem atentos ao desenrolar dessa trama. Muitas surpresas virão, e espero que sejam agradáveis. Mas não sei não!!!
Por enquanto é isso. Fiquem atentos ao desenrolar dessa trama. Muitas surpresas virão, e espero que sejam agradáveis. Mas não sei não!!!