quinta-feira, 13 de agosto de 2015

A indignação seletiva é coletiva. Tudo depende de quem mata e quem morre...!!!

Descanso o queixo sobre meu punho cerrado, observo, analiso, prescruto as reações das pessoas diante das mortes divulgadas na mídia, começando pelo tio do último imperador norte-coreano, passando pelo leão, pelo cãozinho e por outras dezenas de vítimas de todas as espécies ao redor do mundo, e terminando em algum morro carioca, finalmente chego a uma conclusão não muito chocante: a indignação – seletiva, p’rá variar – depende não apenas de quem morre, mas também, e talvez principalmente, de quem mata, não importando muito suas motivações, até porque, em caso de dúvidas e de quem mata, pode-se criar uma!!!


Vamos ao primeiro exemplo, já comentado bem aqui: Israel bombardeia Palestina. Quem foi bombardeado? A Palestina, mas podia ser uma piscina servindo de criadouro de mosquitos da dengue que não faria diferença nesse caso. O diferencial está em quem atacou: Israel. Mas qual o problema com Israel: 1) Trata-se de uma espécie de enclave americano. 2) É um país idealizado por banqueiros bilionários. Agora, substituam Israel por Jordânia e tentem imaginar a (falta de) indignação da elite humanitária. Soubeste dos ataques russos na Chechênia(?) ? Como reagiste? Pois é...!!!


Um exemplo mais próximo e individual: um menor é morto. Quem matou? Um policial. Surge a justa comoção internética. Ops, foi engano: um outro menor o matou; virou uma unidade perdida entre milhares de corpos espalhados pelo país. Volta a ser um pixel. Um homossexual é morto por um sujeito branco? Pronto, surge a justa indignação. Descobre-se, mais tarde, que foi morto por latrocínio. Pronto, os humanitários se indignarão, mas pela promoção de sua causa que criou asas. Um negro é morto por um branco? Racismo, é claro. Foi morto por latrocínio? Ah...hm...hã...duas vítimas do sistema!!!


O esquema funciona mais ou menos assim:





As “elites” representam basicamente nesse modelo os brancos ricos, os conservadores ou aquilo que entendem por conservadores, cristãos praticantes, americanos brancos de classe média para cima e associados dos EUA, políticos "de direita" e a polícia. Já as não-elites são todos os demais, incluindo os animais. Note que de todas as combinações possíveis, somente quando alguém da elite mata alguém da não-elite haverá indignação!!!


Esse esquema moral não é novo, na verdade, é uma reformulação do se fosse pobre, preto e prostituta já estaria preso, resquício de uma sociedade escravocrata oficialmente finda há relativamente pouco tempo. Nesse caso, temos algo assim:




Note novamente que em qualquer situação, só há indignação em uma das quatro situações.


Talvez para manter nossa sanidade em um mundo com cada vez mais mortes divulgadas (o que é diferente de um mundo mais violento), nossa mente acaba selecionando os tipos de mortes que devemos nos indignar. O problema são os critérios morais que usamos para tanto, aquilo que chamo de elites e não elites!!!


A minha reação diante de assassinatos é mais ou menos assim:




Escolhi a palavra bandidos para definir qualquer pessoa cujos atos causem algum tipo de sofrimento a outra pessoa, independentemente de raça, cor, sexo ou classe social. Roubar barras de chocolate no supermercado não merece mais que uma repreensão, mas roubar o salário de uma pensionista já chamo de “bandidagem”. No caso de não-bandido que mata outro não-bandido é algo raro, mas depende da situação!!!


O problema, portanto, não é a indignação seletiva, mas o que motiva a indignação de cada um. Estamos de olho!!!

quarta-feira, 25 de março de 2015

O fim do carro elétrico: quem ganhou?

Certamente já ouviu falar do carro-elétrico, de seus benefícios prometidos e de seu misterioso fim. Talvez tenha ouvido falar da lâmpada que nunca queima, do óbvio benefício e de seu aborto. O que esses produtos revolucionários tem em comum? São revolucionários. Teríamos produtos que causariam bem menos impacto ao meio ambiente e, o mais importante, bem menos impacto no bolso. Mas aí veio os interesses capitalistas – sempre eles - para apagar a luz da lâmpada eterna no fim do túnel do carro-elétrico.


Não penseis que vim destruir a crença, mas complementá-la. Complementá-la como se complementa um castelo de cartas, onde umas cartas a mais pode derrubar o castelo. Não penseis que vim destruir a crença em si, mas a mensagem por trás dela!!!


Por onde começamos? Talvez pelo conceito de empresa: uma organização composta basicamente de trabalhadores, empresários e máquinas. Essa empresa pode ser a grande geradora de empregos (trabalhadores) de uma cidade ou de uma região e responsável pela sua riqueza. Também temos uma matéria-prima de valor inestimável – o petróleo – responsável pela riqueza de países inteiros; países com milhões de habitantes!!!


Se os carro-elétricos vingassem, as empresas petrolíferas encerrariam suas atividades. Sem elas, tanto os empresários quanto os trabalhadores sairiam perdendo. Certamente mais esses últimos que os primeiros. A cidade ou região dependentes dessas empresas iriam a bancarrota. Ah, e o petróleo...todos os países-membros da OPEP ruiriam, assim como regiões que progrediram com a matéria-prima, como o Rio de Janeiro. Só aí são uns 15 milhões de suspeitos de torcerem pelo fim do carro-elétrico. E nem falei dos produtores de cana-de-açúcar, canola e soja, responsáveis pelo etanol, a menos que seja possível misturar 25% de etanol no lítio das baterias desses carro!!!


A crença continua inabalada, até porque não me interessa aqui desmentí-la, mas mostrar que não seriam os monstros de sempre (empresários, “barões”, “duques”, etc..) os únicos suspeitos pelo fim prematuro do carro-elétrico. Estranhamente, os sheiks árabes, apesar de sua opulência dependente do petróleo, não são mencionados entre os responsáveis por essa interrupção. Será que depois disso, sem querer, acabei com a crença ou deixei ela sem sentido, sem graça???

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Ah, sim, tudo isso vale para aquela lâmpada eterna!!!

segunda-feira, 16 de março de 2015

E se tívessemos uma ditadura cubana?


Vós apoiais uma ditadura militar? No meu caso, depende da situação em que o país se encontra. Você reconhece alguns benefícios da ditadura militar, apesar de todos os pesares e prantos? Eu sim. Algumas pessoas que sentem um verdadeiro asco da ditadura militar, curiosamente sentem uma certa admiração, meio que enrustida, à ditadura cubana. E quando a vigarice se expõe, essas mesmas pessoas denunciam aqueles que sentem asco da ditadura cubana, mas sentem certa admiração pela ditadura militar, como se ambas fossem a mesma coisa ou se essa última fosse pior que a primeira. Ambas foram ditaduras, é verdade, mas com ordens de grandeza diferentes em vários aspectos.


Mas, e se...a ditadura militar daqui fosse como a ditadura cubana, como seria? Considerando as diferenças populacionais, seria mais ou menos assim:

  1. Para começar, estaríamos até hoje sob uma ditadura, como bem sabemos que é o caso da ditadura gentil dos Castro Brothers!!!

     2. Não teríamos o chamado Milagre Econômico, que os detratores da ditadura militar (falo daqueles que não vêem nada de bom nesse período), dizem que concentrou renda. Teríamos, na verdade, uma queda econômica, um empobrecimento generalizado, cartões de racionamento e  uma “”justiça social””: todos igualmente pobres, menos os membros do Partido, claro!!! 

  1. Não teríamos mortes no “”porão””, uma vez que a pena de morte seria oficializada. Todos os “”contrarrevolucionários”” (os “coxinhas” de Cuba) seriam solenemente fuzilados. Em certos casos, a execução seria televisionada. Aliás, esse seria o Paredão que estaríamos assistindo hoje!!!
  1. Globo, Sílvio Santos ou Record? Esqueça. Não teríamos canais dos barões da mídia fomentados pela ditadura, mas um único canal, do próprio governo. Imaginem se o único canal disponível fosse uma espécie de TVE, mas com uma programação muito mais doutrinadora que educativa? Gostou???
  1. Teríamos, segundo Leandro Narloch em seu Guia do Politicamente Correto da História do Brasil, algo em torno de 90.000 mortes. O número de mortes na nossa ditadura normal foi de 420!!!
  1. Teríamos mais de 1.000.000 de pessoas que teriam fugido pelas fronteiras (ou muito mais, já que fugir por terra firme é muito mais fácil que fugir pelo alto-mar!!!
6. Teríamos a mais alta taxa e quantidade de abortos do planeta. Juntando isso ao fato de crianças morrerem antes de serem registradas (são registradas bem depois do nascimento), teríamos “”uma baixa taxa de mortalidade infantil””!!!

7. O nosso brilhante sex-simbol da tortura e perseguição no país, Brilhante Ustra, seria visto no mundo todo como um amante da liberdade, um defensor dos fracos e oprimidos, e talvez teria seu retrato estampado em camisetas no mundo todo com alguma citaçãozinha que não proferiu para combinar com seu olhar inclinado para um pouco acima do horizonte!!!

8. Teríamos campos de trabalhos forçados para “”descontentes”” com o regime e para homossexuais, com uma plaquinha na entrada escrito “o trabalho os transformará em homens”!!!

9. Seríamos um grande exportador de sangue humano do mundo. Sangue dos executados no paredão!!!
    10) Teríamos nos primeiros anos de revolução, algo em torno de 8 milhões de refugiados do regime. Ao contrário do que acontece com os refugiados de outros países, seriam vistos por uma parcela da população mundial como bandidos, corruptos, gangsters ou exploradores do trabalho alheio que foram expulsos do país ou que não suportaram as suas benévolas mudanças!!!



Será que era isso que podíamos ou podemos esperar dos idólatras de Fidel Castro caso tomem o poder? Acredito que não, como deixei claro aqui, mas com certeza podíamos esperar algo pior do que tivemos em 1964!!!

domingo, 1 de março de 2015

Pobre...e de direita? Sim!

Já falei sobre isso em outros meios de comunicação, mas como certas colocações devem ser repetidas ad nauseum até aprenderem...Afinal, estamos lidando com pessoas programadas a repetirem chavões aprendidos desde o ensino fundamental até o doutorado. O trabalho de deslavagem é longo, mas deve ser feito.


Segundo Tim Maia, o Brasil é o país de contradições onde "pobre é de direita", mas Joaozinho Trinta meio que responde em parte isso: "pobre gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual. Tomou?


Esse chavão jogado na cara dos coxinhas, com um certo ar de superioridade moral e intelectual de quem joga, é baseada em dois pressupostos falsos: 1) que direita defende ricos e poderosos e 2) que existem partidos de direita no Brasil. Por que são falsos? 1) A direita, em qualquer lugar do mundo, é indiferente à conta bancária do sujeito ou a sua posição na divisão do trabalho (falei um pouco sobre isso aqui. Cliquem aqui mesmo) e; 2) os partidos considerados de direita no Brasil não defendem nada mais que um cargo em algum ministério, ou secretaria ou um cargo eletivo por quatro ou oito anos. Os únicos ricos e poderosos que defendem são eles mesmos e seus financiadores de campanha. O fato de não criarem "bolsas-disso" ou "bolsa-daquilo" não faz deles partidos de direita. O PSDB é um caso a parte que explicarei em outra ocasião.


O que resta na nossa política, então? Partidos de esquerda, e partidos ideologicamente neutros, que graças a programação recebida nos educandários, são considerados de direita (a teoria do ying-yang, e da tese e antítese, também explicariam a necessidade dessa aparente dicotomia).


Poderia parar por aqui, mas vou um pouco mais além.


O sujeito, com pós-graduação recém-concluída em Ciências Sociais Aplicadas Às Sociedades Silvícolas das Ilhas Setentrionais da Micronésia, te olha com um certo ar de nojinho, te aponta o dedo no nariz e te acusa "pobre e de direita". Para ele, defensor do direito universal dos pobres, esses têm o direito a tudo, menos o da escolha ou à ingratidão. Ora, o pobre ganha R$ 100,00 por mês de um governo de esquerda e tem a petulância de ser de direita? E o pobre que não ganha nada? Se o pobre não tem o direito de escolher sua ideologia, para o rico é um pouquinho diferente. Será que nosso pós-graduado aciona sua cara de nojinho e diz "rico e de esquerda"?


Na sua ampla visão política de mundo, o rico é favorecido pela direita, mas não fica indignado, nem horrorizado, nem desconfiado, nem coça a cabeça com o indicador tentando entender o mesmo rico se declarando de esquerda (temos exemplos como Chico Buarque, Caetano Veloso, José de Abreu, José Saramago, etc...) , tampouco se escandaliza com pessoas que ironicamente ficaram ricas defendendo idéias de esquerda (Eduardo Galeano, Thomas Piketty, etc...). Não se envergonham em saber que seus ídolos da esquerda estavam mais próximos da riqueza que da pobreza muito antes de assumirem o poder (Stalin e Hitler, "o direitista", são duas irônicas exceções). Duas hipóteses explicam isso: 1) Todo reforço à causa é bem-vindo (incluindo aí o reforço monetário; não para distribuir aos pobres, claro); e, da mesma forma que o pobre não tem direito à escolha,..2) o rico tem livre escolha a sua ideologia, da mesma forma que tem livre escolha entre comprar uma Ferrari ou um Fiat Uno.  A "prisão social" que nosso pós-graduado acusa é a mesma que ele mesmo estende no campo ideológico. Irônico, não?

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Se a esquerda defende pobres, seria do seu interesse deixar os pobres ricos? Se a direita defende ricos, seria do seu interesse em manter os pobres pobres? Eis a questão.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

A Ficção Possível

Vou falar sobre ficção científica, ou melhor, de uma certa categoria de ficção científica que podem nos forçar a rever nossas certezas do que é realista ou não. Alguns exemplos que citarei não são precisamente “científicos”, mas são quase tão inverossímeis quanto uma arma de pulso eletromagnético disparada por piratas somalis.


Imaginar como será o futuro sob a ótica da ciência e tecnologia é uma extensão do velho anseio da humanidade em saber o que nos espera pela frente. Esse tipo de expectativa do futuro vem desde Julio Verne, quiçá da Grécia antiga ou de Gilgamesh. Mas a ficção que vou falar não é sobre um modo de vida futuro, mas da ficção científica ambientada no presente, algo ainda mais fascinante porque ninguém pode garantir que seja de fato ficção.


O filme Matrix deu uma pequena inovada na ficção científica, grudando na parede nossas certezas: embora a história se passa no futuro, é possível sim que estejamos vivendo numa Matrix. Da mesma forma que a humanidade presa na Matrix jamais admitiria tal possibilidade, nós também não. Embora o filme sacudiu essa nossa certeza, antes dele, outros filmes e romances levantaram isso mais sutilmente.


Filmes sobre viagens no tempo são os melhores exemplos. Qualquer um de nós negaria que isso seja possível. Algo inverossímel, diriam uns. Ninguém admite essa possibilidade da mesma forma que a humanidade desse universo paralelo que são os filmes negaria, mas os personagens principais desses mesmos filmes mostraram que ao menos ali era possível. O filme De Volta Para O Futuro é um bom exemplo: quem no filme, além de Marty Mcfly e o Dr. Emmett Brown sabia que a viagem no tempo era possível? Um exemplo ainda mais inquietante: o filme Um Século em 43 Minutos (Time After Time) onde ninguém menos que H.G.Wells viaja para o seu futuro (o nosso presente) a partir do século XIX. E mesmo no século XX do filme, a viagem no tempo era visto como algo impossível, a ponto de sua máquina virar peça de museu, sem saberem que ela realmente funcionava.


Mas o que me motivou a escrever sobre isso foram as opiniões nesse tema a respeito dos filmes de James Bond/007, da qual sou um fã de carteirinha. É comum ouvir que os filmes antes do inconveniente reboot eram irrealistas. Não acho totalmente, ou pelo menos, dou-lhes o benefício da dúvida, como nos exemplos acima. Meros mortais querendo dominar o mundo, ou extorqui-lo ou manipulá-lo?! Impossível, diriam. O restante da humanidade que não aparece no filme diriam isso mesmo. Será mesmo impossível um bilionário engenhoso e muito ambicioso tentar dominar o mundo e ter seus planos frustados por um agente secreto que obviamente ninguém sabe de sua existência e de seus atos? Acho que não, embora seja improvável...ou não.


Uma cena clássica dessa mesma série, que fomenta esse tipo de comentário é a do carro submarino de 007 O Espião Que Me Amava. Ninguém nunca viu algo assim, nem mesmo os atônitos banhistas do filme que em seguida viram o carro saindo do mar. Até então, a opinião dos banhistas era a mesma que a nossa: esse tipo de coisa não existe, até porque esse tipo de invenção seria de uso exclusivo e ultra-secreto, ou seja, é para todos negarem sua existência mesmo.


Numa época em que extra-terrestres, armas que bagunçam o clima e falhas geológicas, e até “sereias” constituem a ficção da vida real – que pode ser real ou não – porque consideramos como pura ficção coisas como viagem no tempo, ou carros com banco ejetor, ou mesmo uma dimensão paralela onde existem lindos unicórnios? Existe ficção possível e ficção impossível. O que é meio difícil para nós, leigos, é fazer essa separação. O bule voador do Richard Dawkins, por exemplo, seria algo plausível como um lixo espacial largado por algum cosmonauta russo descuidado, a menos que na gravidade zero seja impossível ingerir líquido num bule...


Levantar possibilidades não é criar certezas. O problema é quando "certezas" transformam fatos em ficção e ficção em fatos.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Racismo: Sim, Não ou Quem Sabe?


P.S: Há certas opiniões que são um risco para seu autor, principalmente num país onde 38% dos universitários são analfabetos funcionais (imaginem o resto da população) e temo que o texto abaixo, pelo menos em algumas passagens, seja uma delas; sem falar do olho ideológico que maliciosa e criminosamente distorce a única interpretação possível ou que simplesmente tira uma citação do contexto, “provando” a maldade do autor. Mesmo assim postarei, pois a covardia é um mal a longo prazo. Portanto, caso alguém ou algum grupo se sinta ofendido, não pedirei desculpas.



Começando:


Tudo vira racismo. Não gostou do vestido de uma atriz negra? É racista. Achou uma modelo negra feia? Racista. Foi encontrado o corpo de um homem negro? Lógico: foi morto, em última análise, por racismo. Qualquer pessoa que aponta esses exageros é vista como alguém que nega a existência do racismo. É o raciocínio binário: existe ou não existe, e se existe, então tudo é racismo.


Embora o racismo de brancos para negros seja o mais evidente, existem também o do sentido contrário, ou de outras etnias contra eles ou deles contra outras etnias, ou de outras etnias contra outras etnias... O racismo, na verdade, é apenas uma das várias formas de preconceito, e como tal, sempre irá existir onde houver pelo menos dois grupos populacionais distintos, ou nesse caso, grupos étnicos. O Brasil é considerado um país racista simplesmente porque existe racismo, e existe justamente porque há pelo menos dois grupos étnicos distintos.


Dada essa condição para sua existência, então tudo é racismo, na lógica binária. Um exemplo que circula nas redes sociais é o fato de que 70% das pessoas assassinadas no Brasil são negras, e isso provaria que o Brasil é um país essencialmente racista. Onde está o erro desse argumento? 1) Ele pressupõe que todos os assassinos são brancos. 2) Não leva em conta a proporção entre negros e brancos no Brasil. 3) Ignora as demais possíveis causas de um assassinato.



A preferência por brancos:


Outro exemplo, hipotético, mas nem tanto: se um cantor negro não faz o mesmo sucesso que um cantor branco que canta o mesmo tipo de música, então vivemos num país racista (falei sobre isso aqui e continuando aqui). Antes farei uma colocação:

  • Segundo os dados da PNAD/IBGE de 2013, 46,26% da população se considerava (atentem a esse verbo) branca, 45% pardos e apenas 8% negros. Como em diversos círculos intelectuais, os pardos são considerados negros (parte deles podem ser, mas dificilmente todos) então somados são 53% da população brasileira.

Voltando do intervalo. Será que 53% de uma população não ouve música ou é indiferente a ela, por não dar “votos” ao cantor negro? Ou existe a inominável possibilidade de que grande parte deles preferem o cantor branco? É claro que ninguém sabe ou quer responder.


Outro exemplo, nada hipotético, seria a preferência que casais que adotam crianças por crianças brancas. Ora, num país onde metade da população seria negra, não há um casal negro que adote crianças negras?



Recusado na seleção:


Outra coisa que incomoda um tanto de gente é o fato de alguns empregadores recusarem a mão-de-obra negra. Não se sabe ao certo, em cada caso, o verdadeiro motivo, mas a possibilidade de racismo jamais deve ser descartada. Mas e se aparentemente for por racismo, podemos culpar o empregador? A princípio, a resposta é um sonoro SIM, mas vamos com calma nessas horas, pois nem sempre é o que parece. Se realmente vivemos numa sociedade racista, seria um bom negócio empregar um negro, sabendo que nenhum freguês branco queira ser atendido por ele? Quantas roupas uma atendente de loja negra conseguiria vender para uma branca numa sociedade racista? Provavelmente nenhuma. Você, como patrão(oa) empregaria alguém que não consegue vender nada? Faça essa pergunta pra você mesmo.



O antepassado “imigrado” e torturado:


Todos sabem algo sobre a escravidão no Brasil, mesmo que seja por meio de novelas como Escrava Izaura e Sinha Moça. Leandro Narloch, em seu indispensável Guia do Politicamente Incorreto da História do Brasil, mostra de uma forma bem mais próxima da realidade que a escravidão não era igual para todos os negros, havendo, em certos casos, a possibilidade da alforria (libertação) e – quem diria? – do direito de escravizar outros negros. Mas a versão prevalecente é a de uma população negra inteira trabalhando em canaviais, acorrentados nas senzalas, sendo seguidamente chicoteados, entre outros horrores. Tudo isso explicaria a atual exclusão dos negros na sociedade e uma merecida compensação por todos os males sofridos por seus antepassados longínquos.


Sim, existe discriminação, principalmente da chamada “elite” da sociedade, que talvez associam a população negra à pobreza e servidão, um resquício da escravidão. Embora o racismo seja um obstáculo, até onde ele atrapalha em um país onde metade da população é considerada negra? Marginalizar hermeticamente metade da população de um país por qualquer critério só seria possível por leis ou decretos, como no Apartheid sul-africano, onde a maior parte da população é negra, ou nos EUA até a metade do século XX, mas não é o caso do Brasil. Então há outros fatores que expliquem essa marginalização, além do racismo.

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Sempre que alguém ousa comparar a ascensão social de imigrantes japoneses com a dos negros, o argumento da escravidão-sofrimento-navios negreiros-senzala é imediatamente sacado do coldre. Eu refutaria isso afirmando que no final da primeira década do século XX (quando os japoneses vieram ao Brasil) a situação de ambas as etnias não era muito diferente uma da outra: ambas serviram de mão-de-obra quase escrava, sem falar dos descendentes de escravos alforriados, que deviam ter uma vantagem social em relação aos descendentes dos escravos das senzalas e mesmo aos japoneses da época. Então, outra coisa explicaria essa diferença na ascensão social de ambas etnias (convenhamos, os japoneses superam até os “herdeiros dos escravocratas” como devem ser vistos os brancos com sobrenome português). Novamente, há outros fatores que expliquem essa diferença, além do racismo.

Mas...como remediar todo o sofrimento causado aos negros em séculos passados? Se isso ainda afeta os negros de hoje, então a única coisa forma de ajudá-los seria um tratamento psicológico para superar o trauma de uma situação que nunca viveram, aliás, sequer sabem de que região da África seus antepassados vieram.


Qual seria sua reação se algum louco gritasse “Voltem p’rá África”? Lembrem-se que os africanos não vieram ao Brasil por livre e espontânea vontade, como os demais; foram sequestrados, arrastados para o continente americano. Quando uma pessoa passa por tal situação e tempo depois é libertada, a primeira atitude a tomar não seria devolvê-la ao seu país de origem, além de passar por um tratamento psicológico como sugerido acima? Então, quando falam em “compensar os negros por todo o mal que seus antepassados passaram”, essas duas sugestões devem ser consideradas. E aí, alguém quer ser compensado?


Sim, o racismo existe, mas podemos ser considerado um povo racista? Não sei. Manchetes que acusam 100 atos racistas em um ano podem ser usados como prova cabal disso, mas se em cada um desses atos tiver 3 racistas, somariam trezentos, algo como 0,0003% da população branca brasileira. Se ao menos tivessem uns 2%...quem sabe, né?


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                                                   POSFÁCIO:


Como sou um sujeito precavido, beirando a paranoia, pré-responderei a algumas possíveis acusações que podem surgir:



1) O autor dessa postagem está justificando a discriminação quando afirma que um patrão não precisa empregar negros.

Resposta: O que o autor dessa postagem afirma é que a recusa de um patrão em empregar negros pode não ser necessariamente por racismo pessoal, explicando os motivos pelo qual acredita nisso.


2) O autor dessa postagem quer que os negros voltem para a África.

Resposta: Disse que uma verdadeira compensação aos negros seria o retorno à África, já que seus antepassados foram arrancados de lá, como em um sequestro, o que é tantinho diferente de desejar que voltem para lá. Aliás, que mal há em voltar para a África? Um descendente de europeu ou asiático se ofenderiam se eu sugerisse que voltasse para a terra de seus antepassados?


3) Ele disse que negros podem preferir cantores brancos e - horror dos horrores - até mesmo adotar crianças negras!!!

Resposta: Disse.


4) Pela sua lógica, disse que negros podem matar negros!!!

Resposta: Se chegou a essa conclusão, parabéns!


5) Ele disse que racismo não existe!

Resposta: Vá p'rá PQP!


Então é isso. Até mais.