terça-feira, 5 de abril de 2016

Você faz estatística? Sim!

Começando o texto com uma revelação que fará seu cérebro reagir de forma indiferente, “dando de ombros”, como alguns dizem: nosso cérebro reage ao receber, via audição, determinadas palavras ou revelações. Normalmente, ele “acende” quando escutamos uma novidade. Agora, suas sinapses fundirão como um fusível antes do seu cérebro ser capaz de ofuscar Las Vegas: pensamos e agimos usando estatística básica, tipo aquela do “os 1% dos mais ricos possuem 20% da riqueza mundial”. Até mesmo algumas manifestações aparentemente racistas ou homofóbicas podem ser explicadas pela análise estatística do nosso cérebro.


O cérebro não espera o improvável, qualquer coisa, digamos, com menos de 1% de acontecer. Quais suas chances de você virar de costas e dar de cara com o seu chefe no serviço? Ou com a Miss Suécia? Mínimas no primeiro, e praticamente inexistente no segundo. Nesses casos, suas reações serão de espanto, de encanto, de estupefação, mas nunca de indiferença, há menos que seja algo fácil de acontecer, de algo provável, o esperado. O mesmo vale ao ver uma assombração pela primeira vez.


Bem, vamos ao exemplo do racismo e homofobia. Você se espantaria se fosse atendida por uma gerente de loja negra? Eu sim. Racismo? Não, porque até agora nunca vi uma gerente de loja que fosse negra, até porque onde moro, a proporção de negros na população é bem pequena. Estatisticamente, as chances disso acontecer são mínimas, por isso, me espantaria ao encontrar uma. Para quem fez questão de não entender, explicarei de outra forma: se você lançasse cem vezes uma moeda e em todos esses lançamentos caísse "cara" (uma moeda viciada), você apostará que cairá "coroa" no próximo lançamento? Se um atirador de tiro-ao-alvo acertasse os primeiros 30 alvos, você teria coragem de apostar que ele erraria o trigésimo primeiro? Pois bem, é esse tipo de análise que nosso cérebro faz no dia-a-dia.


Vamos ao exemplo do homossexualismo: no programa Altas Horas desse sábado (02/04), um rapaz perguntou para o outro como é ter duas mães. Esse devolveu a pergunta, de como seria viver com um pai e uma mãe, o que fez a pergunta inicial parecer uma homofobia inconsciente, apesar dele insistir que não era homofóbico. Eu acredito nele e entendo sua curiosidade. Casais homossexuais e com filho(s) são tão raros no momento - só para ilustrar estatisticamente, menos de 1% dos casais são homossexuais - que pouco ou nada sabemos do seu convívio. Então, é normal essa curiosidade, sem que a pessoa seja uma homófoba enrustida.


Para evitar mal-entendidos ou distorções propositais, irei explicar a diferença entre uma coisa e outra: ofensas raciais ou homofóbicas são racismo e homofobia, respectivamente; se surpreender com algo improvável, como nos exemplos acima não são. Normalmente esperamos que as pessoas se relacionem - embora muitos não admitem nem para si mesmos - com alguém da mesma cor, condição social, escolaridade, opção sexual ou da mesma religião, quiçá do mesmo time de futebol. Isso acontece em qualquer um desses estratos da população. Então, tal qual é o espanto quando um pai ou uma mãe vê seu(ua) filho(a) namorando alguém ou de cor, ou condição social ou religião diferente? Ao menos, o espanto inicial pode ser explicado pela nossa estatística cerebral, já o que vem depois, não.


Acontecimentos completamente inesperados - digamos, com 0,05% de acontecer - mas desejados, quando acontecem, dizemos que foi um milagre, ou intervenção divina. Todo mundo vibra quando acerta na Mega-Sena não apenas por causa do prêmio, mas pela improbabilidade de acertarmos, pois o improvável sempre surpreende, espanta, assombra ou escandaliza. Chances de uma mulher ficar nua no centro da cidade? Sei lá, uns 0,001%. Chances de uma freira das carmelitas descalças fazer o mesmo? Certamente ainda mais improvável, por isso, mais espantoso.


Mesmo odiando matemática, números e estatística, instintivamente usamos essas disciplinas chatas, que surgiram justamente porque nosso cérebro usá-as no dia-a-dia, talvez até na hora do sexo. Então, não se espantem se descobrir que nosso cérebro também usa a fórmula de Bháskara, mesmo assim você vai se espantar devido a aparente improbabilidade disso acontecer.