sábado, 27 de setembro de 2008

Capitalismo

Como definir a Complexidade sem recorrer a um dicionário??? Talvez como um conjunto numeroso e intrincado de elementos simples. Uma usina, um organismo, um robô ou mesmo um automóvel são bons exemplos de mecanismos complexos. Mas mesmos eles estão sujeitos a problemas em seus funcionamentos; por isso necessitam de constantes cuidados, embora isso apenas reduzirá as chances de tais problemas acontecerem. O corpo humano é um ótimo exemplo. Mesmo com toda a sua complexidade e perfeição, ele está sujeito aos mais diversos males, mesmo que tomamos todos os cuidados necessários!!!

E o capitalismo??? Ao contrário do que 90% dos nossos adolescentes, filósofos e professores acreditam, ele não é uma invenção de uma mente maquiavélica, disposta a manter a semi-escravidão de uma maioria desafortunada para que uma minoria privilegiadíssima usufrua de todos os confortos que o dinheiro pode comprar. O capitalismo é um sistema complexo, desenvolvido ao longo dos milênios e formado por elementos simples: oferta e demanda!!!

Não, a oferta e demanda também não foram inventadas por Adam Smith (a única referência histórica-econômica dos “90%” e constante alvo da ira desses) mas é algo inerente ao homem e a quase todas as espécies de seres vivos. Funciona assim: doze macacos vivem num território produtivo de bananas, mas escassa em água. No outro território, há muita água mas poucas bananas. E agora??? O que fazer??? Provavelmente os territórios trocariam bananas por água, mesmo que eles não tenham lido Adam Smith e seus seguidores!!!

Se há inúmeros territórios de macacos espalhados, inúmeros macacos em cada território e inúmeros produtos de que necessitam ou desejam – além de bananas e água – será que não surgiria um conjunto numeroso e intrincado de relações de oferta e demanda por tais produtos??? Teríamos um sistema complexo formado por ofertas e demandas. Algo que podemos chamar de capitalismo!!!

Como todos os sistemas complexos, ele também apresenta avarias. E o mais engraçado é que os “90%” só conseguem enxergar as avarias. Dizem – pasmem - que tais avarias é o resultado final desse mecanismo complexo. Dizem que a miséria, a concentração de renda e o monopólio é o resultado final do capitalismo. É o mesmo que culpar os rins e seu funcionamento pelas pedras que se acumularam nele; ou acreditar que a finalidade de um automóvel é tão somente estragar o motor, deixando seu usuário na mão. É por isso que eu digo – sem remorso - que os nossos “90%” sofrem de uma visão míope das coisas. Que adolescentes sofram disso ainda vá; afinal de contas, o romantismo e o simplismo rodeiam-nos nessa etapa da vida, mas adultos...!!!

Ah, mas não pensem que foi sempre assim. Os humanos, por exemplo, caçavam e coletavam frutos, não havia desigualdades. Sim, mas não sabiam fazer outra coisa na vida a não ser caçar e coletar, coletar e caçar. E para não haver qualquer coisa que lembrasse comércio, deveria haver uma única espécie de fruto e um único tipo de animal para caçar; e o sujeito ainda deveria ser caçador e coletor. Num mundo assim, Karl Marx não teria tempo para escrever uma página sequer de O Capital!!!


Pois bem, se ao menos as espécies em geral e o homem em particular fossem auto-suficientes...se ao menos houvesse plena e perene abundância de tudo o que precisamos ou desejamos, o maldito capitalismo não existiria. Maldita complexidade!!!

terça-feira, 2 de setembro de 2008

O senador viu no IBGE

Leiam essa matéria do Globo (link no final)


Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado aprovou na quarta-feira (27) parecer favorável a projeto de lei do senador Paulo Paim (PT-RS) que promove a inclusão de afro-brasileiros no mercado de trabalho.
O texto reserva para esse segmento da população 46% das vagas em empresas com mais de 200 empregados e 20% dos cargos em comissão do grupo de Direção e Assessoramento Superiores (DAS) da Administração Pública. As informações são da Agência Senado.
A proposta ainda será examinada agora pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS) em decisão terminativa, ou seja, não deve passar pelo Plenário do Senado antes de seguir para a Câmara.

O preenchimento dos cargos em comissão deverá ter a meta de 20% aumentada gradativamente, até que sejam ocupados por afro-brasileiros na mesma proporção que essas pessoas ocupam na população brasileira.

Emenda apresentada pelo relator, senador Papaléo Paes (PSDB-AP), determina o prazo de cinco anos após a promulgação da lei para que as empresas com mais de 200 empregados tenham 46% de afro-brasileiros em seus quadros.

O senador explicou que, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 46% da população brasileira é composta por negros.



Eu não sei se o Sr. Paim chegou a analisar realmente os dados do IBGE. Se ele ou algum acessor realmente fez isso, então eles encontraram os seguintes resultados:

Branca – 53,74%
Preta – 6,21%
Amarela – 0,45%
Parda – 38,45%
Indígena – 0,43%
Sem declaração – 0,71%


O que o sr. Paim fez??? Simplesmente considerou os pardos como negros. Assim, temos 46% de negros. “Ah, mas pardos na verdade são negros”. Em parte sim. Um mulato seria branco, negro ou nenhum??? O mulato é a mistura de branco com negro, portanto, se ele não é branco, também não pode ser considerado negro. E outra, nos censos do IBGE, a própria pessoa deve declarar sua cor, embora ela terá que escolher entre as opções acima. Ora, se um negro se declarou pardo, porque considerá-lo negro na hora de receber cotas ou coisa parecida???

Ah, os dados que apresentei estão errados??? Estou mentindo??? Os dados do Paim estão certos??? Então confira você mesmo no site do IBGE (www.ibge.gov.br - agora, pegue lápis e papel para anotar os passos), depois, no lado esquerdo da tela, clique em SIDRA, novamente no lado esquerdo da tela, clique em Demográfico e Contagem. De novo no lado esquerdo da tela, clique em Amostra – Características Gerais da População. Agora você irá encontrar uma série de links, que são tabelas com dados sobre o último Censo demográfico. No subtítulo Cor ou Raça, clique na tabela 2093!!!

Ali você encontrará as opções de busca. No primeiro retângulo, clique em População Residente (percentual), no segundo retângulo, selecione todas as raças, se quiser incluir o Total, serve; dê um clique fora desse retângulo. Agora, no final da página, clique no botão OK. O que vocês estão vendo??? O percentual de cada raça, como expus acima. Agora, releia o porque eu não incluiria pardo como sendo negro!!!

Outro problema, é que as empresas normalmente empregam trabalhadores da cidade onde está instalada, então o que acontecerá em cidades onde a população negra e parda somam uns 10% ??? Nesse caso devem-se empregar todos eles??? Mas e se eles não forem capacitados ou dedicados ao trabalho??? A situação, infelizmente, não é tão simples quanto Paim e equipe fazem parecer!!!

Não, não sou cego, nem insensível, eu sei que os negros sofrem preconceitos, por isso cliquei na outra manchete que se encontra na página desse jornal, onde diz: “Negros ganham, em média, 50% menos do que demais trabalhadores”, onde está escrito o seguinte:

A inserção da população negra na economia brasileira não foi suficiente para equilibrar as diferenças trazidas com o regime escravocrata. Os negros continuam tendo uma diferença desvantajosa em termos de condições de trabalho e de rendimentos. Segundo a Agência Brasil, a avaliação é do diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente Ganz Lúcio.

Segundo Lúcio, em média, os negros têm um rendimento de 50% a 70% inferior ao dos demais trabalhadores, na mesma ocupação.

“Nós temos uma estrutura social que propicia ao negro uma inserção diferenciada, desvantajosa, em relação aos outros membros da sociedade. Ou seja, os fatores cor e raça conferem uma desigualdade a essas pessoas, que precisa sim de políticas que propiciem equidade nessa inserção”, disse o diretor do Dieese, em entrevista ao programa Revista Brasil da Rádio Nacional.

Para Lúcio, é fundamental a ação do estado por meio da educação a fim de garantir oportunidades aos negros e de diminuir a inserção social diferenciada da população negra.

Ele mencionou que o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social fez uma pesquisa nas 500 maiores empresas do Brasil e identificou que somente 3,5% dos cargos de chefia são ocupados por negros.

“As pessoas negras acabam não tendo a oportunidade de ter acesso a uma educação que lhes permitam galgar essa oportunidade e mesmo quando surge vaga, essas pessoas não estão habilitadas a disputar. Portanto, a educação, nesse sentido é um fator determinante combinado com outras medidas”, completou
.


Agora pergunto POR QUE O NEGRO TEM MENOS ACESSO A EDUCAÇÃO QUE O BRANCO??? Essa pergunta não é inédita, pois já fiz uma parecida no post das cotas, mas desta vez farei um pedido: se algum (a) negro (a) tiver lendo isso, por favor, me responda, mas imagino eu que são duas as causas. 1) Salários inferiores, como dito na manchete e; 2) A negação de uma oportunidade de trabalho. Sabemos que é muito mais fácil um negro levar uma portada na cara dos recursos humanos que um branco. Seja como for, nos dois casos há racismo. E leis não faltam para isso, a começar com a Constituição de 88, no artigo 5, inciso XLII, que constitui o racismo como crime inafiançável. Também temos a lei Afonso Arinos (lei 1390/51) que abrange toda e qualquer forma de preconceito, e uma mais específica para o racismo, a lei nº 7.716, de 5/1/89!!!

Portanto, só a Justiça corrige injustiças. Nada de mais injustiças, pois como sabemos, a corda sempre arrebenta no ponto mais fraco!!!


http://g1.globo.com/Noticias/Concursos_Empregos/0,,MUL740281-9654,00-COMISSAO+DO+SENADO+APROVA+COTAS+PARA+NEGROS+EM+EMPRESAS.html