domingo, 1 de março de 2015

Pobre...e de direita? Sim!

Já falei sobre isso em outros meios de comunicação, mas como certas colocações devem ser repetidas ad nauseum até aprenderem...Afinal, estamos lidando com pessoas programadas a repetirem chavões aprendidos desde o ensino fundamental até o doutorado. O trabalho de deslavagem é longo, mas deve ser feito.


Segundo Tim Maia, o Brasil é o país de contradições onde "pobre é de direita", mas Joaozinho Trinta meio que responde em parte isso: "pobre gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual. Tomou?


Esse chavão jogado na cara dos coxinhas, com um certo ar de superioridade moral e intelectual de quem joga, é baseada em dois pressupostos falsos: 1) que direita defende ricos e poderosos e 2) que existem partidos de direita no Brasil. Por que são falsos? 1) A direita, em qualquer lugar do mundo, é indiferente à conta bancária do sujeito ou a sua posição na divisão do trabalho (falei um pouco sobre isso aqui. Cliquem aqui mesmo) e; 2) os partidos considerados de direita no Brasil não defendem nada mais que um cargo em algum ministério, ou secretaria ou um cargo eletivo por quatro ou oito anos. Os únicos ricos e poderosos que defendem são eles mesmos e seus financiadores de campanha. O fato de não criarem "bolsas-disso" ou "bolsa-daquilo" não faz deles partidos de direita. O PSDB é um caso a parte que explicarei em outra ocasião.


O que resta na nossa política, então? Partidos de esquerda, e partidos ideologicamente neutros, que graças a programação recebida nos educandários, são considerados de direita (a teoria do ying-yang, e da tese e antítese, também explicariam a necessidade dessa aparente dicotomia).


Poderia parar por aqui, mas vou um pouco mais além.


O sujeito, com pós-graduação recém-concluída em Ciências Sociais Aplicadas Às Sociedades Silvícolas das Ilhas Setentrionais da Micronésia, te olha com um certo ar de nojinho, te aponta o dedo no nariz e te acusa "pobre e de direita". Para ele, defensor do direito universal dos pobres, esses têm o direito a tudo, menos o da escolha ou à ingratidão. Ora, o pobre ganha R$ 100,00 por mês de um governo de esquerda e tem a petulância de ser de direita? E o pobre que não ganha nada? Se o pobre não tem o direito de escolher sua ideologia, para o rico é um pouquinho diferente. Será que nosso pós-graduado aciona sua cara de nojinho e diz "rico e de esquerda"?


Na sua ampla visão política de mundo, o rico é favorecido pela direita, mas não fica indignado, nem horrorizado, nem desconfiado, nem coça a cabeça com o indicador tentando entender o mesmo rico se declarando de esquerda (temos exemplos como Chico Buarque, Caetano Veloso, José de Abreu, José Saramago, etc...) , tampouco se escandaliza com pessoas que ironicamente ficaram ricas defendendo idéias de esquerda (Eduardo Galeano, Thomas Piketty, etc...). Não se envergonham em saber que seus ídolos da esquerda estavam mais próximos da riqueza que da pobreza muito antes de assumirem o poder (Stalin e Hitler, "o direitista", são duas irônicas exceções). Duas hipóteses explicam isso: 1) Todo reforço à causa é bem-vindo (incluindo aí o reforço monetário; não para distribuir aos pobres, claro); e, da mesma forma que o pobre não tem direito à escolha,..2) o rico tem livre escolha a sua ideologia, da mesma forma que tem livre escolha entre comprar uma Ferrari ou um Fiat Uno.  A "prisão social" que nosso pós-graduado acusa é a mesma que ele mesmo estende no campo ideológico. Irônico, não?

.


Se a esquerda defende pobres, seria do seu interesse deixar os pobres ricos? Se a direita defende ricos, seria do seu interesse em manter os pobres pobres? Eis a questão.

Nenhum comentário: