quinta-feira, 12 de abril de 2018

Uma guerra esquecida

Guerras são inesquecíveis. Todos sabem ou já ouviram falar das diversas guerras que o mundo já presenciou ou sofreu; mas vez ou outra surgem curiosas exceções. Quem já alcançou seus quarenta anos de idade, lembrar-se-á do que falarei em seguida. O que vou contar foi o que eu vi, o que me lembro, não pesquisei sobre isso, é um testemunho pessoal.



Agosto de 1990: o Iraque, um dos maiores produtores de petróleo do mundo, invade o Kwait, outro dos maiores produtores de petróleo do mundo. Eis que a partir daí, um personagem já meio conhecido de uma guerra anterior é erigido tal qual foi Bin Laden em 2001: Saddam Hussein. Seu nome passou a significar ameaça não apenas à paz mundial, mas a toda a civilização, afinal, desde a criação da ONU, invadir países não é algo muito tolerável, principalmente quando um dos maiores produtores de petróleo do mundo invade outro grande produtor de petróleo do mundo. Algo precisava ser feito, e é aí que começa a tensão. Uma coalizão de países da ONU, inclusive com países do Oriente Médio, prometeu libertar o Kwait. O problema: uma guerra interminável naquela região prejudicaria o comércio mundial de petróleo, o que causaria...fome. Fome em todo o planeta. Esse foi o medo. Uma guerra não-nuclear, mas que destruiria a civilização.



Meses antes, assisti pela primeira vez o filme Mad Max II. O que me chamou a atenção foi o prelúdio do filme, explicando como o mundo chegou àquele ponto. A Guerra Fria havia chegado às grandes fontes de petróleo, destruindo as imensas refinarias e acabando com o abastecimento. Sem petróleo, começou uma convulsão social e o colapso da civilização. Mais ou menos isso que eu estava esperando dessa tal guerra.



A tensão em todo o planeta foi grande, a Rede Globo criou plantões especiais para esse evento, tão ou mais aterradores que os atuais plantões da emissora. Janeiro de 1991 (digo que foi um dos melhores anos da minha vida), a iminência de uma Guerra no Golfo (acho que não expliquei: esse Golfo é uma referência ao Golfo Pérsico, onde tudo ia acontecer) preocupava a todos e a mim, até porque eu vi no Mad Max II o que poderia acontecer. Curiosamente, a Globo exibia uma de suas campanhas para alguma coisa, no caso, uma campanha pela paz, com crianças cantando, como se quisesse fazer um apelo aos envolvidos e meio que tranquilizar seus telespectadores pelo que ia vir, e isso me deixava ainda mais preocupado.



14 de janeiro, umas 22 horas no horário de Brasília, começa a temida guerra. E agora? Algumas pessoas estocaram botijões de gás temendo um desabastecimento. Deveriam ter estocado comida também. Algumas "maravilhas" tecnológicas de guerra surgiram, deixando os alvos bem mais seletivos, com o menor número de mortes inocentes e destruição possível. Doce ilusão para quem acreditou que as guerras posteriores seriam assim. Os passos da guerra eram esses: primeiro, um ataque aéreo; caso não desse certo, haveria um ataque terrestre; caso não desse certo, um ataque noturno. Mísseis inteligentes, etapas planejadas, tudo muito cirúrgico, como deveria ser todas as guerras, já que evitá-las é impossível. Essa foi a chamada Guerra Cirúrgica, pois tudo deveria ser muito cirúrgico, caso contrário...adeus, civilização. A medida que a guerra passava, menos provável ficou o tão temido desabastecimento de produtos de petróleo, inclusive dos batons.



A estratégia do senhor Saddam durante a guerra foi atacar Israel para que esse reagisse. Caso isso acontecesse, os demais países muçulmanos que estavam ao lado da ONU se aliaram ao Iraque, o que complicariam muito a situação, podendo concretizar o grande temor dessa guerra. Devemos agradecer o governo de Israel da época por manter o sangue-frio. Tudo isso foi narrado pela CNN, onde pela primeira vez ouvi falar dessa emissora, pelo seu inesquecível correspondente - acho que já esquecido - Peter Arnett.



Dizem que quando perguntaram a Albert Einstein como seria a Terceira Guerra Mundial, ele disse que seria uma guerra nuclear, mas a Quarta Guerra Mundial seria com paus e pedras, insinuando o retorno da humanidade à pré-história. O que aconteceu não seria uma guerra nuclear, mas nosso destino seria o mesmo. Parece mentira, um pesadelo, mas foi real. Pergunte para seus pais.

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