quarta-feira, 21 de maio de 2008

Isabela, mídia, justiça, e você!!!

Eu não quis, tentei ficar longe desse assunto, mas não deu. Vou dar meu veredito; não sobre o crime, mas sobre a cobertura do caso, que por si só, já rende tanto ou mais assuntos quanto o caso em si!!!

A superexposição do assassinato da menina Isabela Nardoni está provocando diversas reações na opinião pública. Uns querem que se faça justiça, outros querem que isso acabe logo de uma vez, outros acreditam que querem abafar a incompetência do governo carioca com o caso da dengue, e outros...outros...acreditam que a mídia só fala nisso porque a vítima é de classe média alta. Talvez seja esse o motivo, mas o efeito mais óbvio disso é bem diferente daquilo que imaginam!!!

Bem, os defensores dessa última opinião acreditam que a mídia valoriza mais a vida de um membro da classe média alta que a vida de um pobre – ou classe média baixa. Talvez seja verdade, mesmo porque crimes hediondos são muito menos comum em redutos “burgueses” que nas periferias ou nas favelas, mas há um “porém”: os assassinos são seus próprios pais (ou melhor, pai e madrasta) que também são de classe média; na verdade, a vítima era filha de assassinos de classe média alta. O que isso significa??? Significa que a mídia está mostrando – intencionalmente ou não - como os membros da classe média alta podem ser tão monstruosos quanto o traficante que mata inocentes ou seus desafetos. O que você acharia se os pais assassinos fossem pobres e a mídia estivesse superexpondo o caso??? Já antecipo sua resposta: achará que a mídia quer mostrar a todos como os pobres são monstruosos. Notou a diferença??? No caso de pais assassinos pobres, uma boa parcela do público focalizaria seu ponto-de-vista para esses pais porque, segundo eles, esses pais estariam sendo vítimas da inquisição eletrônica controlada pela burguesia; mas no caso da Isabela, a atenção desse mesmo público está voltada para a vítima porque ela é de classe média, e a mídia, segundo eles, se preocupa muito com os “seus”!!!

E tem mais: o caso só chama a atenção porque os pais da vítima são os principais suspeitos da morte de Isabela, e isso merece toda uma investigação que a mídia acompanhará porque muitos de nós gostamos de ver trabalhos de detetive. Tá ai o sucesso que o seriado americano CSI está fazendo para provar. Se houvesse flagrante delito, por exemplo, certamente não haveria todo esse “romantismo” em torno do caso. Bastava apenas mostrar ao Brasil o que fizeram, prendê-los, e pronto. Simples. E o mais estranho é que tem muitos fãs do CSI que criticam toda essa cobertura do caso!!!

Apesar de ser exaustiva, essa superexposição é a parte menos elitista da história. Acho que a parte elitista está sendo cumprida pela Justiça. Ela está utilizando métodos investigativos que não deixarão dúvidas sobre a culpa ou a inocência do casal. Afinal de contas, eles não podem perder todo um status social por um crime que não cometeram. Talvez se esses pais fossem pobres, bastava o juiz, o promotor, o delegado e o júri suspeitar deles para jogá-los em cana, sem direito a habeas-corpus, apelação ou condicional. Ou seria essa superexposição o motivo de toda essa dedicação da Justiça???

Enfim, antes de afirmar que a mídia está dando muita atenção ao caso Isabela porque ela era rica, lembre-se que os assassinos foram seus pais ricos. Se você não gosta de ricos, então agradeça a mídia pela malhação que os assassinos – ricos – estão sofrendo. Quando pais pobres matam seus rebentos a pauladas ou suas crianças caem “acidentalmente” da laje do telhado cercada por telas de proteção, torça para que a mídia não exponha demasiadamente o caso, ou acharão que a inquisição eletrônica quer punir o pobre casal sem um julgamento justo. Dois pesos, duas medidas, mas não só da mídia, mas principalmente de boa parte do público. Talvez de você!!!

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